Papel e celulose: como o carvão ativado ajuda a reduzir impacto ambiental e reaproveitar água

A indústria de papel e celulose é uma das mais relevantes da cadeia produtiva nacional. Sua complexidade envolve desde a extração de matéria-prima até etapas altamente técnicas de processamento químico, físico e biológico. E entre todos os insumos necessários para manter essa engrenagem em funcionamento, a água ocupa um papel central. Presente em praticamente todas as fases da operação, ela é usada em grande volume e, por consequência, gera efluentes que precisam ser cuidadosamente tratados. Nesse cenário, o carvão ativado se apresenta como uma solução estratégica para aumentar a eficiência do tratamento e, ao mesmo tempo, contribuir com a redução do impacto ambiental e o reaproveitamento hídrico.

A produção de celulose e papel envolve processos como cozimento, branqueamento, lavagem, prensagem, secagem e corte. Todos esses estágios consomem grandes quantidades de água e geram resíduos líquidos que contêm uma combinação de contaminantes complexos. Esses efluentes costumam apresentar carga orgânica elevada, presença de lignina residual, compostos clorados, álcoois, surfactantes, corantes e outros derivados químicos do processo industrial. Muitos desses contaminantes não são removidos apenas com sistemas tradicionais de decantação ou tratamento biológico.

Mesmo com o avanço de tecnologias nas Estações de Tratamento de Efluentes (ETE), certos compostos permanecem no efluente tratado. Isso ocorre principalmente quando se trata de moléculas pequenas, solúveis e com baixa biodegradabilidade. Essas substâncias podem gerar coloração persistente, mau odor, toxicidade residual e dificuldade de reuso. É nesse ponto que o carvão ativado atua com eficiência, removendo os poluentes que escapam das etapas convencionais.

O carvão ativado funciona por adsorção. Sua estrutura interna altamente porosa tem a capacidade de atrair e reter moléculas orgânicas e inorgânicas, mesmo em baixas concentrações. Isso o torna ideal para aplicações de polimento final no tratamento de efluentes industriais. Ele pode ser utilizado tanto em sistemas contínuos, com leitos filtrantes e colunas fixas, quanto em aplicações pontuais, em bateladas ou tanques de contato seguidos de filtração.

Na indústria de papel e celulose, sua aplicação mais comum é justamente na etapa final do tratamento, onde os compostos coloridos e os resíduos de produtos químicos de branqueamento precisam ser reduzidos para que o efluente possa ser descartado com segurança ou reutilizado no processo. A remoção de lignina residual, fenóis, compostos halogenados e ácidos húmicos é especialmente relevante, pois são justamente esses contaminantes que causam cor, turbidez e potencial de toxicidade ambiental.

O uso de carvão ativado também favorece o reaproveitamento de água dentro da própria planta industrial. Com o aumento da pressão por uso racional de recursos hídricos e as metas ambientais mais exigentes, muitas empresas passaram a implementar circuitos fechados ou semiabertos de água, reduzindo a captação externa e promovendo a recirculação. Para que esse reaproveitamento seja viável, é necessário garantir que a água recuperada esteja isenta de compostos que possam interferir na qualidade do papel, causar incrustações em equipamentos ou afetar reações químicas do processo.

Ao remover os contaminantes finais, o carvão ativado contribui diretamente para que essa água tratada retorne com qualidade suficiente para ser usada em lavagens, torres de resfriamento, caldeiras ou mesmo em partes do processo produtivo. Isso reduz a demanda por água bruta, diminui o volume de efluentes gerados e melhora o balanço hídrico da planta, promovendo ganhos econômicos e ambientais.

Outro ponto que merece destaque é a compatibilidade do carvão ativado com diferentes tipos de sistema. Ele pode ser dimensionado de acordo com a vazão, a carga contaminante e o nível de remoção desejado. Além disso, permite reconfiguração rápida em plantas industriais que operam sob diferentes regimes, com variações sazonais de produção. Essa flexibilidade é importante para manter a eficiência do tratamento mesmo em contextos de alta demanda ou mudança de matéria-prima.

A escolha do tipo de carvão ativado ideal para esse tipo de aplicação exige atenção a parâmetros como área superficial, distribuição de poros, resistência mecânica, valor de pH, capacidade de retenção e, em alguns casos, necessidade de impregnação com substâncias específicas. Em aplicações com alta carga de lignina ou compostos aromáticos, por exemplo, carvões com predominância de microporos são mais eficazes. Já quando se trata de remoção de coloração persistente ou compostos de maior peso molecular, os mesoporos desempenham papel central.

Ao incorporar o carvão ativado ao tratamento de seus efluentes, a indústria de papel e celulose não apenas atende às exigências legais, mas fortalece sua posição diante de um mercado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade. O resultado é um ciclo produtivo mais limpo, com menor impacto ambiental e maior segurança para as operações internas. A água deixa de ser apenas um insumo e passa a ser tratada como o ativo estratégico que de fato representa para o setor.

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